O Blog Do Mendes

Viriato

Publicado em Etcaetera por miguelaj em January 21st, 2008

O meu amigo manu e eu criámos uma banda desenhada. São as aventuras de Viriato em busca da felicidade, (des)ajudado por seu único amigo, Barcelos o galo.

Eu faço os textos e o manu faz os desenhos, brilhantemente ilustrados no potentíssimo “paint”, do windows.

O viriato é uma ramificação do blog “partem tudo”, do qual fazemos parte.

Viriato e Barcelos 

Bolsa de Amores

Publicado em Azeite Excedentário por miguelaj em January 18th, 2008

Um vira que gravámos no CD da minha banda quase-famosa mas depois decidimos não incluir. Bob Dylan meets rancho folclórico de baião. Reparei agora que com esta harmonica os primeiros 43 nano-segundos parecem o love me do, mas depois o ritmo minhoto despista a semelhança.

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Bolsa de Amores

Perguntei ao corretor
onde podia aplicar
os excedentes do amor
que eu tinha andado a poupar

investi tudo em acções
cotadas a um bom valor
mas não quis obrigações
e passei-as ao portador

joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado

no mercado de futuros
joguei em novos valores
há que jogar pelo seguro
nesta bolsa dos amores

só que o valor facial
sofre depreciações
e o longo prazo é fatal
quem vê caras não vê cotações

joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado

se o capital aumentar
por liquidez em retenção
é o passivo a engordar
e a baixar a cotação

é como moeda ao ar
o mercado é mesmo assim
a cara em que eu fui apostar
já era coroa no fim

a aplicação financeira
sempre pode ser trocada
mas a que eu trago em carteira
essa, ninguém quer nem dada

joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado

fiei-me nos fiadores
ouvi juras semestrais
joguei na bolsa de amores
jurei para nunca mais

O homem em mim

Publicado em Mendes ortónimo por miguelaj em January 13th, 2008

Para quando uma pessoa se esquece dos anos da catraia.

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O Homem em Mim

Em mim há um homem que
É capaz de tudo por ti
Traz-te um chocolate
E flores do jardim

À hora certa traz um piropo
Que te faz sempre encabular
Abre-te todas as portas
Cede-te sempre o lugar

É assim
é assim
O homem em mim

Em mim há um homem que
Sabe sempre o seu lugar
Sabe muitas coisas
E a hora certa de chegar

Em mim há um homem que
Tem sempre uma solução
Planos contingentes
E um mapa na mão

É assim
é assim
O homem em mim

Mas olhando com cuidado
Dentro do homem em mim
Mora um menino estouvado
Em pequeno benjamim
Sem horas para nada
E que se esquece do teu dia de anos
Na cabeça só tem um soalheiro jardim
Eu no fundo desconfio
(tenho cá para mim)

Que é assim
é assim
Que tu gostas de mim

Porque é assim
é assim
O homem em mim

Todas as noites o meu amor vem da rua com um presente

Publicado em Azeite Excedentário por miguelaj em January 13th, 2008

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Todas as noites o meu amor vem da rua com um presente

Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Ás vezes traz um perfume
A vinho e aguardente
Ás vezes traz-me uma rosa
Em cada face a brilhar
E vem sempre com um sorriso
Que não tinha ao acordar

Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Uma camisa de marca
Com marcas de batom
Às vezes traz-me um cartão
A bater do plafond
E quando eu acho que já quase
Nada me pode espantar
Traz-me sempre o mesmo doce
Amargo de voltar

Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Às vezes vem com um livro
De cheques sem provisão
Há vezes que vem com uma jóia
De um amigo de ocasião
Mas quase sempre é um perfume
De outra mulher diferente
Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente

Lisboa não é Hollywood

Publicado em Azeite Excedentário por miguelaj em January 13th, 2008

O título é roubado de um dos episódios do Duarte e Companhia. A música é sobre o rise and fall no star-system português. Homenagem a Cândida Branca Flôr, respeitosamente.

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Lisboa não é Hollywood

chega candida de capeline
como ela respira saúde
quase que parece a marylin
a chegar a hollywood

mas sem tapetes encarnados
sob os seus pés de dama
e seus sapatinhos delicados
apenas pisam na lama

Lisboa é paleio de aljube
por entre ruas esquinas
também tem suas colinas
mas lisboa não é hollywood

como ela cai na trama
e esbanja a sua virtude
pelo passeio da fama
mas lisboa não é hollywood

candida na solidão
de capeline, rouge e batom
não foi parar ao panteão
morreu na vala comum

Entrevista

Publicado em Etcaetera por miguelaj em December 16th, 2007

Entrevista com a minha pessoa aqui:

O Piolho da Solum

Um bem haver.

Baile dos sem-ninguém

Publicado em Azeite Excedentário por miguelaj em December 11th, 2007

Uma das muitas músicas que ficaram de fora da Rádio Alegria. Neste género “ball-room dancing” já havia a Cantigas de Amor, que ganhou. Entretanto mudei uns acordes e umas partes da letra (que ficou como aqui publico), mas o que tenho gravado é isto (Randy Newman meets Rosa Lobato Faria, circa 1ª guerra mundial). Quando gravar a versão actualizada, ponho aqui.

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Baile dos Sem-ninguém

Quando o coração se cansa
De procurar alguém
É a hora de ensaiar a dança
No baile dos sem ninguém

Aqui vêm por costume
Os que a noite fez refém
Fogem do amor e do ciúme
pro baile dos sem ninguém

Um a um, vê como vão
Arejar o coração
Trocando o passo no compasso da solidão
Sabem que amanhã há outra sessão

Se me vires dançar comigo
Dança contigo também
Amigo não empata amigo
No baile do sem-ninguém

Todas as noites dançamos
À espera de quem nunca vem
É por isso que ainda voltamos
Ao baile dos sem-ninguem

Um a um, vê como vão
Arejar o coração
Trocando o passo no compasso da solidão
Sabem que amanhã há outra sessão

Resta-me a vã esperança
Que tu gostes de mim também
E que esta seja a nossa ultima dança
No baile dos sem-ninguém

Nos Desenhos Animados (Nunca Acaba Mal)

Publicado em Azeitonas por miguelaj em December 11th, 2007

Editada no disco “Rádio Alegria”. Cantado pela Azeitonette Nena, com óbvia alteração da letra.

NOS DESENHOS ANIMADOS (NUNCA ACABA MAL)

Eu quero a sorte de um cartoon
Nas manhãs da RTP 1
És o meu tom sawyer
O meu huckleberry finn
E vens de mascarilha e espadachim
Lá em cima há planetas sem fim

Tu és o meu superheroi
Sem tirar o chapéu de cowboy
Com o teu galeão e uma garrafa de rum
Eu era tua e de mais nenhum
Um por todos e todos por um

Nos desenhos animados
Eu já conheço o fim
O bem abre caminho
A golpes de espadachim
E o príncipe encantado
Volta sempre para mim

Eu sou a jane e tu tarzan
A Julieta do meu dartagnan
Se o teu cavalo falasse
Tinha tanto para contar
Ao fantasma debaixo dos meus lençóis
Dos tesouros que escondemos dos espanhois

refrão

Quando chegar o final
Já podemos mudar de canal
Nos desenhos animados
É raro chover
E nunca, quase nunca acaba mal
By the power of grey skull

Cantigas de Amor (Homenagem a Tony de Matos)

Publicado em Azeitonas por miguelaj em December 10th, 2007

Editada no disco “Rádio Alegria”, da minha banda quase-famosa de Pop-Rock. A letra entretanto mudou um bocado. Aqui está a música conforme ela me apareceu um belo dia.

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CANTIGAS DE AMOR

O VENDAVAL PASSOU
A PRIMAVERA VOLTOU
TROCAM-SE FLORES E AFAGOS
EM BANCOS DE JARDIM
TROCAM-SE JURAS DE AMOR
EM PAIXÕES DE FOLHETIM
O SOL ACONCHEGA OS CORAÇÕES
E O POVO CANTA AS CANÇÕES
TRAUTEANDO, MÃO NA MÃO
CADA VERSO, CADA REFRÃO
ATÉ OS PASSAROS SABEM DE COR
AS SUAS CANTIGAS DE AMOR

QUE MUNDO TÃO FELIZ
ATÉ PARECE PARIS
TROCAM-SE JURAS DE AMOR
EM DELIRIOS FEBRIS
ELAS DESFILAM EM BANDO
E ELES PEDEM BIS
MAS ENQUANTO ISSO O MEU CORAÇÃO
DESPEDAÇADO E SÓ
DÁ O MOTE. DÁ O SOM
ACERTA O RITMO, AFINA O TOM
E ESCOLHE OS VERSOS QUE VESTEM MELHOR
AS SUAS CANTIGAS DE AMOR

O Senhor Germano

Publicado em Penas de Pato por miguelaj em December 10th, 2007

O Sr. Germano sentia-se no direito de ter hobbies. Tinha dedicado toda uma vida de trabalho árduo como ajudante de guarda-livros, por isso agora devotava todo o seu tempo a satisfazer os seus caprichos de horas vagas. O dominó encabeçava o topo das suas preferências. O facto de não ter companhia (não tinha amigos) não o demovia de se entregar de corpo e alma a essa actividade da qual usufruía de forma pouco convencional.
Sentava-se sozinho, com a diligência de quem completa uma tarefa vulgar, e começava por dispôr as peças viradas para baixo, num rectângulo que ocupava todo o chão da sua cave.
Depois, com paciência, pintava por cima do lençol de dominós um tosco desenho (o Sr. Germano não era lá grande desenhador). No fim, numerava as peças, recolhia-as uma e uma e dispunha-as novamente, na vertical, de acordo com o seu esquema global. Gostava da forma como os dominós de desfiavam um a um, e sentia-se um Grande Arquitecto o ver o seu desenho ganhar forma, por fim, logo após o seu pequeno piparote divino. Era como se todo um Universo se desenhasse perante ele, Sr. Germano, o Criador, ali na sua pequena e húmida cave.
Mas sua cave sempre era mais digna do que o seu posto de trabalho na empresa do Patrão Vasques. Pelo menos não estava sujeito àquela corrente de ar que o deixou para sempre, de forma crónica, a pingar do nariz. E assim O Sr. Germano ia queimando os seus dias, manuseando as suas milhares de peças de dominó. Por isso mesmo, a metafísica da Arquitectura Divina do seu ofício nao era a única coisa invisível naquelas peças de dominó. Nessas peças gastas e sujas moravam também colónias de bactérias, autênticos mundos dentro de um Mundo. Assumiam diversas bio-formas. Em cada peça habitavam milhões de milhares de vidas, que também elas se conjugavam numa quase harmonia que caracteriza todo e qualquer eco-sistema. Cada peça era uma galáxia. Algumas dessas bactérias, esses vermes invisíveis do Dominó do Sr Germano, eram afeitas a pensar. Em cada peça, seus habitantes filosofavam sobre o grande Esquema Global das coisas, inquietados pela sua finitude e seu propósito divino.
Gerações e gerações de bactérias iam depurando, com o correr dos tempos, o saber das suas grandes questões. Sabiam que habitavam a sua peça em concreto. Batalhões de aventureiros, organizados em missões inter-peças, já estavam ao corrente da exsistência de vida noutras peças. Mas não podiam sequer sonhar de onde vinha a sua peça. Não sonhavam que sua peça vinha de uma safra de sucessivas pilhagens em que o Sr. Germano ia subtraído o Clube dos Fenianos de todo o seu parque de objectos lúdicos, em anós de matinés recriativas de Domingo. Semi-grupos de bactérias pensantes concebiam vagamente um vasto lençol de outras peças, sempre em constante mutação, e que um dia um peça se lhes tombaria em cima, e que por sua vez sua peça tombaria por sobre uma outra, e todo o esquema global em que concebiam a existência de sua espécie se desordenaria por fim, num apocalispe inevitável. Outros baseavam toda a sua existência na Fé. Acreditavam num Sr. Germano, a que davam vários nomes. Do Sr. Germano vinham (não ousavam saber como, mas também um nariz humano é coisa que não seriam capazes de conceber) e para o Sr. Germano (chamemos-lhe assim) voltariam um dia. Várias correntes de pensamente debatiam, de forma acesa e ao longo vários minutos (o que para estes minusculos seres se poderá traduzir em milénios), se a vontade desse Ente Superior seria ou não consciente. De peça em peça ia decorrendo a sua vida, normalmente. Alguns, profecticamente, vaticinavam ideias pouco substânciadas de um tosco desenho, um porvir quase-bíblico onde um dia todos se juntariam num Uno que finalmente faria sentido para todas as suas sub-espécies. Mas esses não eram levados a sério. Seus habitantes concentravam-se, isso sim, em ir mais além, sempre dentro do alcance do visível, e era já possível conhecer a vida num raio de 3 a 4 peças. Mas mesmo assim a vida fazia pouco sentido.
Entretanto, o Sr. Germano já tinha acabo de dispôr as suas estimadas peças todas na vertical. Já se podia dirigir, triunfal, à peça inicial, aquela que desencadearia o fim último dos seus últimos dias. Com o dedo médio, deu o seu piparote. E em poucos segundos viu desfiar, em cascata, as peças que constituiam o todo da sua criação, e viu ganhar forma o Galo de Barcelos meio tosco que tanto trabalho lhe tinha dado a desenhar.