Reader’s Digest
Fado-revista. As selecções do reader’s digest ofereciam (se calhar ainda oferecem), num produto práctico e compacto, toda uma maneira de estar na vida. É assim como uma espécie de caldo knorr literário.
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Reader’s Digest
Quero a vida pacata que acata o destino sem desatino
Sem birra nem mossa, que só coça quando lhe dá comichão
À frente uma estrada, não muito encurvada atrás a carroça
grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no chão
e já agora a gravata, com o nó que me ata bem o pescoço
para que o alvoroço, o tremoço e o almoço demorem a entrar
quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser funcionário
com cargo honorário e carga de horário e um ponto a picar
vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a reader’s digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em frança
abrandando a dança, descansado até ao fim
quero ter um t1, ter um cão e um gato e um fato escuro
barbear e rosto, pagar o imposto, disposto a tanto
quem sabe amiude brindar à saude com um copo de vinho,
saudar o vizinho, acender uma vela ao santo
quero vida pacata pataca gravata sapato barato
basta na boca uma sopa com pão com cupão de desconto
emprego, sossego, renego o chamego e faço de conta
fato janota, quota na conta e a nota de conto
vou dizer que sim ser assim assim assinar a reader’s digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em frança
abrandando a dança, descansado até ao fim
Mais papelada
No jornal “notícias da manha” e no “póvoa semanário“, sobre a “rádio alegria”
Banco de Jardim
Parte da Rádio Alegria. Esta é um quasi-plágio ordinário de uma música dos beach boys chamada “surfer girl”.
BANCO DE JARDIM
NUM REPENTE DE EMOÇÃO
DISPAROU MEU CORAÇÃO
O TEU RECADO ERA PARA MIM
É DE TI QUE EU GOSTO
NÃO FALTO AO TEU RENDEZ-VOUS
SEIS DA TARDE, BANCO DE JARDIM
PUS-ME LOGO A SONHAR
COREI SÓ DE IMAGINAR
NÓS OS DOIS NO BANCO DE JARDIM
DECOREI O QUE DIZER
VESTI ROUPA A CONDIZER
ROUBEI FLORES DO JARDIM
A SOLIDÃO NUM INSTANTE ERA BREVE ILUSÃO DE UM AMOR
COMO SE ESSE AMOR DE REPENTE FOSSE TAMBÉM UM BEM AO MEU DISPOR
QUANTOS DESTINOS DE CRUZAM ASSIM
QUANTOS ROMANCES SE ACENDEM ASSIM
AO CAIR DA TARDE NUM BANCO DE JARDIM
QUANTOS DESTINOS DE CRUZAM ASSIM
QUANTOS ROMANCES SE ACENDEM ASSIM
AO CAIR DA TARDE NUM BANCO DE JARDIM
A LUA SUBIU DE TOM E ANOITECEU
ELA NEM APARECEU
MAIS UM SONHO SE DESFAZ ASSIM
DESFIZ A MINHA ILUSÃO
E GRAVEI UM CORAÇÃO
A CANIVETE NO BANCO DE JARDIM
A SOLIDÃO DE REPENTE ERA A MINHA CANÇÃO DE LANGOR
COMO SE O AMOR, NOVAMENTE, FOSSE UM ESTRANHO , UM DESERTOR
QUANTOS ROMANCES ACABAM ASSIM
ANTES DE SER, CHEGAM AO FIM
COMO O MEU E TEU NUM BANCO DE JARDIM
Sílvia Alberto
Sílvia alberto pouco tempo após o parto. Salvo seja. Ainda lhe faltava nascer um refrão. Mais tarde gravada pela minha banda de pop-rock quase-famosa.
Sílvia Alberto
SEI QUE JÁ NÃO POSSO MAIS
ESCONDER O SENTIMENTO
SINTO QUE O MEU CORAÇÃO
REBENTA A QUALQUER MOMENTO
SILVIA, GOSTO DE TI
E JURO QUE NÃO DEIXO
SE UM DIA QUISERES TIRAR
ESSE TEU SINAL NO QUEIXO
VAIS TER QUE ME DESCULPAR
ESTA HUMILDE CONFISSÃO
NADA MAIS TENHO PRA TE DAR
DO QUE ESTA POBRE CANÇÃO
SEI QUE SÓ VOU SER FELIZ
QUANDO ESTIVERMOS BEM PERTO
OUVE BEM O QUE TE DIZ
UM CORAÇÃO ABERTO
Ó SILVIA, Ó SILVIA ALBERTO
TEU SORRISO, SABES BEM
É O MEU ABRIGO
SE ALGUEM TO TENTAR ROUBAR
VAI TER QUE SE HAVER COMIGO
SILVIA TU ÉS A RAZÃO
QUE ME FAZ ACORDAR DE MANHÃ
UM DIA AINDA GANHO CORAGEM
E SALTO PARA DENTRO DO ECRÃ
SILVIA VAIS DESCULPAR
ESTA HUMILDE CONFISSÃO
NADA MAIS TENHO PRA TE DAR
DO QUE ESTA POBRE CANÇÃO
SEI QUE SÓ VOU SER FELIZ
QUANDO ESTIVERMOS BEM PERTO
OUVE BEM O QUE TE DIZ
UM CORAÇÃO ABERTO
Ó SILVIA, Ó SILVIA ALBERTO
Viriato
O meu amigo manu e eu criámos uma banda desenhada. São as aventuras de Viriato em busca da felicidade, (des)ajudado por seu único amigo, Barcelos o galo.
Eu faço os textos e o manu faz os desenhos, brilhantemente ilustrados no potentíssimo “paint”, do windows.
O viriato é uma ramificação do blog “partem tudo”, do qual fazemos parte.
Bolsa de Amores
Um vira que gravámos no CD da minha banda quase-famosa mas depois decidimos não incluir. Bob Dylan meets rancho folclórico de baião. Reparei agora que com esta harmonica os primeiros 43 nano-segundos parecem o love me do, mas depois o ritmo minhoto despista a semelhança.
Bolsa de Amores
Perguntei ao corretor
onde podia aplicar
os excedentes do amor
que eu tinha andado a poupar
investi tudo em acções
cotadas a um bom valor
mas não quis obrigações
e passei-as ao portador
joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado
no mercado de futuros
joguei em novos valores
há que jogar pelo seguro
nesta bolsa dos amores
só que o valor facial
sofre depreciações
e o longo prazo é fatal
quem vê caras não vê cotações
joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado
se o capital aumentar
por liquidez em retenção
é o passivo a engordar
e a baixar a cotação
é como moeda ao ar
o mercado é mesmo assim
a cara em que eu fui apostar
já era coroa no fim
a aplicação financeira
sempre pode ser trocada
mas a que eu trago em carteira
essa, ninguém quer nem dada
joguei na bolsa de amores
sem conhecer o mercado
só ganhei dissabores
e um coração hipotecado
fiei-me nos fiadores
ouvi juras semestrais
joguei na bolsa de amores
jurei para nunca mais
O homem em mim
Para quando uma pessoa se esquece dos anos da catraia.
O Homem em Mim
Em mim há um homem que
É capaz de tudo por ti
Traz-te um chocolate
E flores do jardim
À hora certa traz um piropo
Que te faz sempre encabular
Abre-te todas as portas
Cede-te sempre o lugar
É assim
é assim
O homem em mim
Em mim há um homem que
Sabe sempre o seu lugar
Sabe muitas coisas
E a hora certa de chegar
Em mim há um homem que
Tem sempre uma solução
Planos contingentes
E um mapa na mão
É assim
é assim
O homem em mim
Mas olhando com cuidado
Dentro do homem em mim
Mora um menino estouvado
Em pequeno benjamim
Sem horas para nada
E que se esquece do teu dia de anos
Na cabeça só tem um soalheiro jardim
Eu no fundo desconfio
(tenho cá para mim)
Que é assim
é assim
Que tu gostas de mim
Porque é assim
é assim
O homem em mim
Todas as noites o meu amor vem da rua com um presente
Todas as noites o meu amor vem da rua com um presente
Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Ás vezes traz um perfume
A vinho e aguardente
Ás vezes traz-me uma rosa
Em cada face a brilhar
E vem sempre com um sorriso
Que não tinha ao acordar
Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Uma camisa de marca
Com marcas de batom
Às vezes traz-me um cartão
A bater do plafond
E quando eu acho que já quase
Nada me pode espantar
Traz-me sempre o mesmo doce
Amargo de voltar
Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Às vezes vem com um livro
De cheques sem provisão
Há vezes que vem com uma jóia
De um amigo de ocasião
Mas quase sempre é um perfume
De outra mulher diferente
Todas as noites, o meu amor
Vem da rua com um presente
Lisboa não é Hollywood
O título é roubado de um dos episódios do Duarte e Companhia. A música é sobre o rise and fall no star-system português. Homenagem a Cândida Branca Flôr, respeitosamente.
Lisboa não é Hollywood
chega candida de capeline
como ela respira saúde
quase que parece a marylin
a chegar a hollywood
mas sem tapetes encarnados
sob os seus pés de dama
e seus sapatinhos delicados
apenas pisam na lama
Lisboa é paleio de aljube
por entre ruas esquinas
também tem suas colinas
mas lisboa não é hollywood
como ela cai na trama
e esbanja a sua virtude
pelo passeio da fama
mas lisboa não é hollywood
candida na solidão
de capeline, rouge e batom
não foi parar ao panteão
morreu na vala comum