O Romântico Autêntico
O romântico autêntico
Apanha as flores que nascem do asfalto
e toma de assalto
o coração de ninguém
O romântico autêntico
De dia deita-se à sombra do triste
Cipestre que não existe
E apanha versos do chão
Do poema que nunca fará
Da cantiga que não cantará
Ao amor que Deus não Lhe dará
E regressa à casa que sabe que nunca terá
Ele é só
Um romântico autêntico
Um tipico Romântico
O romântico Autêntico
Quer lá saber das estrelas, do azul do céu,
do azul do mar
e dos passarinhos na primavera
O romântico autêntico
Apanha as flores que nascem do asfalto
e toma de assalto
Os versos do chão
Do poema que nunca fará
Da cantiga que não cantará
Ao amor que Deus não Lhe dará
E regressa à casa que sabe que nunca terá
Ele é só
Um romântico autêntico
Um tipico Romântico
(e o romântico autêntico não manda flores a ninguém)
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Blitz
Sonhos
Voltei. Finalmente resolvi a questão do “estúdio em casa”. O material tem sempre razão.
Gravei esta música no “guitalele” do meu sobrinho, que é uma guitarra de dois palmos de comprimento.
Sonhos
Quando a lua chega
Levando o sol cruel
Só a noite me aconchega
No seu terno e doce mel
E eu posso enfim sonhar
Que tu és minha e eu sou teu
Pudesse eu nunca acordar
Deste sonho meu
Sonhos, sonhos
Delírios serenos
Só sonhos me querem bem
Sonhos, sonhos,
Guardasses ao menos
Um sonho para mim também
Só a lua deixa
Que eu seja quem não sou
Para que em sonhos, eu me veja
Com que eu não estou
E eu não quero acordar
Quero ir para onde eu não vou
Pudesse eu nunca mais voltar
Deste sonho meu
Sonhos, sonhos
Delírios serenos
Sonhos que me querem bem
Sonhos, sonhos
Guardasses ao menos
Um sonho para mim também
Viri’s Theme
O blog do Mendes tem andado muito parado, por motivos de mudança de casa do Vosso blogger. Quando o Vosso blogger assentar arrais em novo poiso, a actividade voltará ao normal.
Entretanto, publico aqui a B.S.O. (banda sonora original) de Viriato & Barcelos, a B.D. da qual orgulhosamento sou co-autor.
Foi a primeira música instrumental que fiz na vida, aqui está ela:
(download)
O Esteta
Sou feio. Aliás: sou tremendamente feio. Adjectivar de “feio” aquilo que me caracteriza é eufemismo: sou monstruoso. O homem-elefante ao pé de mim é uma rainha de beleza. O Quasimodo se me visse, olhar-me-ia com um misto de ternura e asco. As minhas bochechas parecem duas almofadas de espetar alfinetes: são inchadas, flácidas e feias. O meus nariz é uma tromba gigantesca e feia de onde brotam alguns pêlos pretos. As minhas orelhas são duas cornucópias pequenas, tortas e feias. Os meus olhos são dois pequenos berlindes brilhantes ao fundo de uma camada adiposa através da qual vejo o mundo a muito custo. Já a minha alma pode ser caracterizada por um espírito charmoso e arguto, que facilmente conquista as pessoas. Não me é difícil. Sirvo-me da inteligência desde o primeiro dia em que me apresentaram o espelho, e cultivo uma alma que em nada se coaduna com a carcaça através da qual ela se manifesta nesta existência terrena. Mas desde que esteja da parte de cá do meu monitor, obviamente. Pretendo, sozinho, e através da rede global, alterar os padrões de beleza que desde adão e eva aprisionam a humanidade neste estreito e apertado espartilho estético, que considero redutor. Até porque me diminui como pessoa humana. Que é como dizer que pretendo alertar o mundo para a evidência de que eu sou bonito e ele é abjecto a estes olhos que a custo o miram através desta repelente camada de unto. Aguardo com alguma apreensão este encontro que combinei através da internet. Caio amiudadamente nesta asneira: a de marcar encontros. E se ela é feia? É que Deus, não sem alguma ironia, quando me fez este monstro, equipou o meu neocortex com o dom da exigência: não posso com gajas feias. A beleza feminina é para mim um predicado fundamental. Basta que os olhos não sejam perfeitamente simétricos, basta um dente minimamente torto, basta um pequeno sinal, verruga ou cravo, e parto imediatamente para o insulto. Basta o mais remoto indício de celulite e a minha libido mirra. Ancas largas e parto para a agressão física. O que, em boa verdade, em nada condiz com o credo mundial que pretendo instalar. Como posso eu alterar os padrões de beleza se eu próprio pendo interiormente por respeitá-los de forma feroz e tirana? Depois penso nisso. Neste momento a minha preocupação é outra: estou sentado à mesa do café à espera do meu ciber-engate. As pessoas olham-me com asco e repulsa, como de todas as outras 18 vezes em que saí de casa. Mas não é isso que me deixa inquieto. Sendo eu um desastre da natureza, não por ser este monstro, mas mais pelo padrões de exigência desajustados que caracterizam a minha prospecção femeeira, não me responsabilizo se me entra pelo café adentro um estafermo e o meu instinto de alma lhe espeta imediatamente um biqueiro na boca.
Costureira da Sé
Conheci o João no liceu. Tinhamos 15 anos e a malta juntava-se em casa do Pedro para tocar as nossas versões de Pantera e Sepultura. Depois o João saiu, e veio a primeira banda que eu tive com o marlon, os yellow jello. Depois vieram os tsé tsé. Gravamos um disco na BMG do tozé brito. Foi um disco revolucionário, que de certa forma antecipou o paradigma digital que se avizinhava: o dos Cds que não vendem. A sala de ensaios do Pedro hibernou depois disso. Agora o João continua a ensaiar na sala do Pedro via fading commission, e nas horas vagas vem dar uma canja com os azeites. Sucede que ele é neto de um dos grandes baluartes do nacional cancionetismo. A Maria Clara é avó do João. Sou grande fã das músicas dela, bem como do género musical a que a associam. Geralmente, o chamado “nacional-cançonetismo” é associado à música do regime, mas eu como nasci em 1978, para mim o regime é quando se corta nos doces e nos hidratos de carbono. Gosto tanto do Zeca Afonso como do João Ferreira Rosa. De todas as musicas que eu ouvi da Maria Clara, entre “Figueira da Foz”, “Quem passa por Alcobaça”, “De lá Para Cá” e “Ó Zé Aperta o Laço”, esta foi a que mais me bateu.
“Costureira da Sé” foi um filme (o primeiro filme português onde aparecia um beijo na boca) de 1958, da qual fazia parte esta música, mas já numa outra versão. A original, gravada pela Maria Clara é, segundo o João, de meados dos anos 40.
Aqui fica a minha versão, gravada ontem numa viola cujas cordas já não são mudadas mais ou menos desde esse tempo.
(download)
Reader’s Digest
Fado-revista. As selecções do reader’s digest ofereciam (se calhar ainda oferecem), num produto práctico e compacto, toda uma maneira de estar na vida. É assim como uma espécie de caldo knorr literário.
(download)
Reader’s Digest
Quero a vida pacata que acata o destino sem desatino
Sem birra nem mossa, que só coça quando lhe dá comichão
À frente uma estrada, não muito encurvada atrás a carroça
grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no chão
e já agora a gravata, com o nó que me ata bem o pescoço
para que o alvoroço, o tremoço e o almoço demorem a entrar
quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser funcionário
com cargo honorário e carga de horário e um ponto a picar
vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a reader’s digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em frança
abrandando a dança, descansado até ao fim
quero ter um t1, ter um cão e um gato e um fato escuro
barbear e rosto, pagar o imposto, disposto a tanto
quem sabe amiude brindar à saude com um copo de vinho,
saudar o vizinho, acender uma vela ao santo
quero vida pacata pataca gravata sapato barato
basta na boca uma sopa com pão com cupão de desconto
emprego, sossego, renego o chamego e faço de conta
fato janota, quota na conta e a nota de conto
vou dizer que sim ser assim assim assinar a reader’s digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em frança
abrandando a dança, descansado até ao fim
Mais papelada
No jornal “notícias da manha” e no “póvoa semanário“, sobre a “rádio alegria”
Banco de Jardim
Parte da Rádio Alegria. Esta é um quasi-plágio ordinário de uma música dos beach boys chamada “surfer girl”.
BANCO DE JARDIM
NUM REPENTE DE EMOÇÃO
DISPAROU MEU CORAÇÃO
O TEU RECADO ERA PARA MIM
É DE TI QUE EU GOSTO
NÃO FALTO AO TEU RENDEZ-VOUS
SEIS DA TARDE, BANCO DE JARDIM
PUS-ME LOGO A SONHAR
COREI SÓ DE IMAGINAR
NÓS OS DOIS NO BANCO DE JARDIM
DECOREI O QUE DIZER
VESTI ROUPA A CONDIZER
ROUBEI FLORES DO JARDIM
A SOLIDÃO NUM INSTANTE ERA BREVE ILUSÃO DE UM AMOR
COMO SE ESSE AMOR DE REPENTE FOSSE TAMBÉM UM BEM AO MEU DISPOR
QUANTOS DESTINOS DE CRUZAM ASSIM
QUANTOS ROMANCES SE ACENDEM ASSIM
AO CAIR DA TARDE NUM BANCO DE JARDIM
QUANTOS DESTINOS DE CRUZAM ASSIM
QUANTOS ROMANCES SE ACENDEM ASSIM
AO CAIR DA TARDE NUM BANCO DE JARDIM
A LUA SUBIU DE TOM E ANOITECEU
ELA NEM APARECEU
MAIS UM SONHO SE DESFAZ ASSIM
DESFIZ A MINHA ILUSÃO
E GRAVEI UM CORAÇÃO
A CANIVETE NO BANCO DE JARDIM
A SOLIDÃO DE REPENTE ERA A MINHA CANÇÃO DE LANGOR
COMO SE O AMOR, NOVAMENTE, FOSSE UM ESTRANHO , UM DESERTOR
QUANTOS ROMANCES ACABAM ASSIM
ANTES DE SER, CHEGAM AO FIM
COMO O MEU E TEU NUM BANCO DE JARDIM
Sílvia Alberto
Sílvia alberto pouco tempo após o parto. Salvo seja. Ainda lhe faltava nascer um refrão. Mais tarde gravada pela minha banda de pop-rock quase-famosa.
Sílvia Alberto
SEI QUE JÁ NÃO POSSO MAIS
ESCONDER O SENTIMENTO
SINTO QUE O MEU CORAÇÃO
REBENTA A QUALQUER MOMENTO
SILVIA, GOSTO DE TI
E JURO QUE NÃO DEIXO
SE UM DIA QUISERES TIRAR
ESSE TEU SINAL NO QUEIXO
VAIS TER QUE ME DESCULPAR
ESTA HUMILDE CONFISSÃO
NADA MAIS TENHO PRA TE DAR
DO QUE ESTA POBRE CANÇÃO
SEI QUE SÓ VOU SER FELIZ
QUANDO ESTIVERMOS BEM PERTO
OUVE BEM O QUE TE DIZ
UM CORAÇÃO ABERTO
Ó SILVIA, Ó SILVIA ALBERTO
TEU SORRISO, SABES BEM
É O MEU ABRIGO
SE ALGUEM TO TENTAR ROUBAR
VAI TER QUE SE HAVER COMIGO
SILVIA TU ÉS A RAZÃO
QUE ME FAZ ACORDAR DE MANHÃ
UM DIA AINDA GANHO CORAGEM
E SALTO PARA DENTRO DO ECRÃ
SILVIA VAIS DESCULPAR
ESTA HUMILDE CONFISSÃO
NADA MAIS TENHO PRA TE DAR
DO QUE ESTA POBRE CANÇÃO
SEI QUE SÓ VOU SER FELIZ
QUANDO ESTIVERMOS BEM PERTO
OUVE BEM O QUE TE DIZ
UM CORAÇÃO ABERTO
Ó SILVIA, Ó SILVIA ALBERTO